terça-feira, 30 de novembro de 2021

Tempo de qualidade

 “Pensa naquela pessoa que já morreu e não está mais aqui conosco. Aquela pessoa que você ama muito e sente muita saudade. Se por alguma mágica você pudesse ter mais 5 minutos com ela. O que você faria?”

Essa é uma fala da Dra Ana Claudia, autora do livro “A morte é um dia que vale a pena viver'' e que traz reflexões sobre a vida e a morte de uma maneira sutil, delicada e cuidadosa.

Respondendo a questão acima, é bem provável que você abraçaria, beijaria, contaria alguma coisa que você viveu, demonstraria amor, cuidado. Você exerceria o que a vida estaria te proporcionando e  aproveitaria esse tempo com essa pessoa, mesmo que pouco, é um tempo que tem valor, um tempo de qualidade. Você não perderia esse tempo como o que não é importante.


Livro: A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes


É curioso que nós não queremos falar sobre a morte, mas queremos ouvir sobre morte porque em algum momento da nossa vida  já passamos por essa experiência com alguém próximo e que se ama. E ter a consciência da morte é angustiante e traz pra nós a urgência de viver o que a gente ainda tem, nos oferecendo uma perspectiva mais apurada sobre como deveríamos viver esta vida.

O que deveria nos assustar não é a morte em si, mas a possibilidade de chegarmos ao fim da vida sem aproveitá-la, de não usarmos nosso tempo da maneira que gostaríamos e em vez de medo e angústia, devemos aceitar nossa essência para que o fim seja apenas o término natural de uma caminhada.


Nosso tempo de qualidade

Dra Ana Cláudia Quintana Arantes é uma médica geriátrica e que cuida de pessoas no final de suas vidas. Ela traz à tona o tema de cuidados paliativos com a experiência do cuidado. Está presente sempre que houver um sofrimento, desde o diagnóstico da doença trazendo qualidade de vida durante o tratamento e transformando esse “Durante” mais feliz. Vivendo o momento presente da forma que se é mais feliz.

Teremos a vida inteira para ter saudade. Precisamos viver uma vida com um tempo de qualidade.


Texto: Maria Fernanda Garcia

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Desandada

 

Eis que, do nada, perto das 23:30 Clarice acorda à noite chorando e reclamando. Fui acudi-la e percebi que estava quente. Peguei o termômetro e, batata, estava com febre. Fazia uns 4 anos que ela não tinha nada, nem um resfriado (bate na madeira). Coloquei ela na minha cama e ficamos lá, nós quatro - porque a Amora não saiu da cama e ainda fez questão de se espreguiçar para garantir seu espaço. Foram quase 24 horas de febre. E da mesma forma que apareceu a febre, ela se foi assim, puf, do nada. Alívio.  

Essas 24 horas foram suficientes para dar uma cambalhota na vida e uma rasteira nos planos. Foi um “soco” tão forte que fizeram vários pratinhos da vida equilibrada e engatilhada caírem. Rolou o dia todo de pijama e de televisão. Macarrão para o almoço que aconteceu no sofá. Cochilada na sala. Mais doce do que devia. 





Essas coisas acontecem realmente para vermos que não temos controle de absolutamente nada e sim uma falsa sensação de controle. E que mesmo nas adversidades nós conseguimos ter forças para fazer o que deve ser feito - as prioridades, relaxar com aquilo que não é tão importante assim e deixar para lá.

As sujeiras dos pratos que caíram serão limpas aos poucos. Com a rotina se estabelecendo devagarinho, passo a passo. Como diz Roberta Ferec “A vida vai continuar desandando. Mas  a maneira como lidamos com tudo isso é que vai fazer dos percalços uma experiência de tormenta ou um aprendizado.” 


Texto: Maria Fernanda Garcia

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Momentos

 Foi um final de semana delicioso onde decidimos turistar pela cidade de Santos. Os escolhidos foram: Museu de pesca e passeio de bonde histórico. Tudo pronto e lá fomos nós!

O museu foi uma delícia. Interativo. Lá vimos peixes e tubarões empalhados, tudo sobre a história da pesca, um esqueleto gigante de baleia e o xodó dela: uma réplica de navio! Ela podia entrar, subir e descer, uma maravilha! Saiu de lá querendo voltar. 

Pausa para o almoço, sorvete e bora andar de bonde! A expectativa de Clarice era alta. Ela pulava e dizia que era sonho dela andar de bonde… Estava eufórica! Depois de acomodados, o bonde buzinou e começou a aventura.


A cara de felicidade antes do passeio... 

O guia turístico foi explicando cada detalhe dos prédios históricos, da importância do café para a cidade, da riqueza, falava, falava e falava. Nós, adultos, estávamos achando super legal, tentando recriar a época que ela descrevia, foi quando olhei para a Clarice e percebi que ela não estava mais tão feliz assim. Ela estava muito brava. Perguntei o que estava acontecendo e ela perguntou: “Quando que ele vai parar de falar para a gente curtir o passeio?” Disse que era assim mesmo. Que ele estava mostrando pra gente como as coisas funcionavam antigamente e explicando na prática o que ela iria aprender nas aulas de História na escola. Mas ela estava irredutível. Eu dizia: “Olha que legal aquela casa em cima da pedra” e ela “Tô com sede” e eu "Tá vendo ali a janela de ferro?” e ela “arrã”.

Não sei o que ela imaginou como seria esse passeio de bonde, mas não foi difícil de entendê-la. Conhecendo-a bem, posso dizer que talvez ela achasse que poderia ir de pé, com vento na cara e os cabelos voando, rindo e falando. Sei lá... Isso não estragou o passeio, porque em dias assim, diferentes da nossa rotina, sempre tomamos uma dose de leveza com um bocado de expectativas baixas e com o olhar atento aos MOMENTOS.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Doce Novembro

Li num post do Instagram que “Novembro é tipo a quinta - feira do ano”. Achei genial e verdadeira. Não sei vocês, mas quinta-feira é para mim, o melhor dia da semana. Tem um ar mais despojado de quem já fez mais da metade do trabalho semanal, onde podemos fazer um happy hour no final do expediente - por aqui sempre rola um vinho ou cerveja - é a semana já com cara de final de semana. Me levanto de manhã feliz às quintas. 


Clarice preocupadíssima e com a boca cheia de pipoca...

Novembro tem cara de urgência. Temos que fazer “caber” nesse mês às demandas atrasadas do ano que se passou. De tentar correr com prazos e listas de coisas a serem feitas. Tentar organizar as tarefas das crianças do próximo ano. Tudo isso em apenas poucas semanas. Mesmo assim estamos felizes e entusiasmados, não é mesmo?! 

É época de montar árvore de Natal, de planejar a comemoração do Ano Novo e das férias. Onde o corre corre é frenético com as confraternizações de final de ano - elas voltaram, aleluia! - Organizar a agenda de eventos com finais de semanas deliciosamente ocupados. Correr com os preparativos para o encontro dos familiares e amigos porque não importa  o que fazemos, mas sim com quem fazemos, com quem passamos os nossos momentos - não temos tempo a perder. É também o momento em que podemos olhar para trás, avaliar o que passou. Comemorar os acertos, aceitar os erros e pensar em como corrigi-los. 

Em novembro já temos aquela sensação de dever cumprido por mais um ano que se passou, com cheirinho de férias de verão no ar, sim! Já começa a fazer calor! (pelo menos deveria né) Que delícia! 

Eu adoro Novembro e você? 

Texto: Maria Fernanda Garcia


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Alma Praieira

Estou com saudades da praia. Do cheiro de maresia, de andar na areia beirando o mar molhando os pés. De sentir o calor do sol no meu rosto. De dar um mergulho. De fazer SUP. Da sensação de vida.


Foto: Natanael Vieira para Unsplash

Moro em São Paulo, mas tenho alma praieira. Moraria fácil em cidade litorânea. Minha família tinha um apartamento no Guarujá, em frente à praia. Lá foi o meu refúgio de verão por 39 anos. Sempre era a primeira da família a chegar e a última a ir embora no final de temporada. Quando pequena lembro de fazer planos de mudarmos pra lá. E sempre ia embora chorando. 

Ninguém nunca entendeu essa minha fissura por estar perto do mar. O lifestyle, a energia, a vibe. Estar no mar é um momento de felicidade incalculável. 

Dizem que as coisas que nos alegraram muito, inevitavelmente se transformam em coisas comuns. E mesmo sabendo disso acho que nunca me acostumaria com esse encanto.

Quando estou lá na praia fico atenta e celebrando cada momento com entrega porque estar ali realmente me faz bem.

Trago esse espírito comigo pra São Paulo e celebro a vida aqui com os meus entes, conquistas e pequenos deleites diários. Mas que meu lugar é na praia, ah isso é!

Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 26 de outubro de 2021

Dar-se um jeito!

 Já ouvi diversas vezes que tenho um ar de desencanada, de que tá sempre tudo bem, sempre “de boas”, tranquila...

De fato me considero bem leve em alguns aspectos da vida onde outras pessoas surtam, mas a verdade é que eu sempre fui regrada, a rainha do planejamento, a que faz roteiros para tudo, a que cronometra o dia, a que tem um planner mensal e semanal colado na geladeira,  a que odeia imprevistos, a que tenta estar no controle de todas as situações da vida. 

Hiking Family


Uma das coisas que aprendi durante esse ano de pandemia e alguns bons anos de terapia, é que temos uma falsa impressão de controle. A gente pode até antecipar cenários, fazer listas de prós e contras, pensar em possíveis consequências, mas saber o que vai acontecer? Ah, isso não sabemos. A vida só acontece. Muitos dos planos não dão certo, muitas certezas absolutas já não são exatamente aquilo que pensávamos e muitos dos imprevistos nos fazem lembrar de que a vida é agora e a gente sempre dá um jeito de fazer acontecer. Mesmo quando tudo sai do SEU controle.  Sem planos, certezas e roteiros.

Estou tentando todo dia ser aquele ser desencanado que as pessoas me veem.

Todo dia.

Um passo de cada vez. 

Meu mantra atual é uma frase do Guimarães Rosa “ A vida é feita de poucas certezas e muitos dar-se um jeito” 

Texto: Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 19 de outubro de 2021

Aprender a Fazer

 “ É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer” Aristóteles

Fui buscar a Clarice na natação e ela estava meio triste, o que me pareceu estranho já que ela ama fazer esportes e ama nadar. Conversando, ela disse que não estava conseguindo virar cambalhota e que precisava aprender até o final do ano para o “Festival de Natação”. Ela pediu que eu a ajudasse, já que quando ainda estava na faculdade, fui professora de natação. Marcamos o dia e descemos para treinar.


Entre um mergulho e outro ela disse que estava com muito medo. Medo de entrar água no nariz, medo de ficar desnorteada embaixo d'água, medo, muito medo. “A ideia de que algo ou alguma coisa possa ameaçar a segurança ou a vida de alguém, faz com que o cérebro ative, involuntariamente, uma série de compostos químicos que provocam reações. Isso é o que caracteriza o medo”

Entendi e acolhi seus sentimentos e em resposta disse que ela não precisava aprender a cambalhota se ela não quisesse. E expliquei que esse é o tipo de coisa que a gente só  aprende a fazer, fazendo, treinando, praticando. Eu podia ficar horas ali dizendo teorias e tentando convencê-la, mas o resultado só virá quando ela conseguir relaxar, “deixar acontecer” e principalmente: se divertir. Ai sim ela será capaz de fazer o que quiser. Estou ao lado dela, mas só depende dela. 

Pode ser que essa cambalhota não aconteça esse ano e tudo bem! Passamos uma tarde deliciosa de brincadeiras, mergulhos, leveza e muita, mas muita água no ouvido.

Texto Maria Fernanda Garcia


sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Crise da Meia Idade

Foi num almoço despretensioso de um domingo qualquer com algumas amigas e amigos que surgiu o assunto “Crise da Meia idade”. Aquele período onde a gente não sabe exatamente o que é, mas sabe que talvez não seja aquilo que achávamos que era.  Ou seja, onde podemos assumir que estamos envelhecendo e assuntos como a finitude, sentido da vida e outros sentimentos que nem bem sabemos nomear começam a surgir na nossa cabeça. Parece até que as nossas velhas idéias, objetivos e  valores não fazem mais sentido.

Um dos nossos amigos se desembestou a praticar atividade física e a alimentar-se melhor, outro está decidido a pedir demissão, outra diz querer largar tudo e fazer intercâmbio na Austrália, outra decidiu surfar e praticar todo o lifestyle que envolve a nova modalidade, outra quer mudar de país, outra pensa em mudar de área e quem sabe fazer uma nova faculdade, outra quer fazer mestrado, outro está pedalando duas horas nos finais de semana, outra virou vegana… Vejam que não temos um padrão de questões levantadas num almoço, são diversas - sobre vida profissional, vida pessoal, relacionamentos, mas todas tinham um ponto em comum, o desejo de mudança.


Nós - Crise da meia idade. Será?

Carl Jung descreve essa crise como “Metanóia”, palavra grega que significa mudança. Mudar de ideia, mudar de conceitos, mudar de pensamentos. Ela acontece na segunda metade de nossas vidas, entre 30 e 50 anos e é descrita como precedente para a descoberta do verdadeiro sentido da própria vida.

A neurociência cognitiva diz que o crescimento e desenvolvimento podem ocorrer na meia idade, portanto somos tecnicamente capazes de produzir um cérebro mais equilibrado, desenvolvido e aprender novas habilidades.

O mais difícil hoje em dia é lidar com uma cultura que não vê que pode-se sim se desenvolver, crescer e mudar aos 40+. Porque não estamos correndo atrás do tempo perdido, e sim buscando mecanismos  internos para enfrentar uma nova vida sem deixar de lado a antiga, sabendo que toda ação gera uma reação e é preciso estar ciente das suas escolhas.

São tantos exemplos me rodeando que decidi acolher e escutar as minhas vozes internas. É aquela velha questão: “Não sei se eu caso ou compro uma bicicleta?”, só que bem mais profunda.

Texto: Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 5 de outubro de 2021

Você é bom ouvinte?

Quando caminhamos a pé todos os dias para a escola passamos a conhecer todas as perfeições e imperfeições do nosso trajeto. Todas as rachaduras e buracos do chão, paredes e muros pintados e pichados, as novas flores das árvores e as pessoas que sempre estão presentes no nosso dia a dia, mesmo sem conhecê-las.

Passamos sempre na frente de uma loja de calçados - Clarice passa duas vezes e eu passo quatro vezes, e em todas elas um rapaz que trabalha lá diz na maior animação:

- Bom dia! Quer entrar para ver as promoções? 

- Hoje não, obrigada!

Ele fala em T-O-D-A-S-A-S-V-E-Z-E-S-N-A-I-D-A-E-N-A-V-O-L-T-A… Até achei que ele estava me zoando, porque entre as duas primeiras passadas o intervalo é de dois minutos. Ele tinha acabado de falar comigo, não era possível que achava que eu tinha mudado de ideia assim tão rápido. Isso acontecia quando eu estava acompanhada ou desacompanhada. Era até engraçado. A gente até pensou em fazer como aquele meme onde a pessoa levanta um cartaz com uma frase qualquer e na nossa seria: “Não queremos ver as promoções, obrigada.”


Clarice e sua Grande Bolha

Um dia resolvi conversar com ele. Perguntei seu nome e batemos o maior papo. Ele me contou sobre sua vida, a família, como estavam indo os negócios. Disse estar bem difícil o comércio hoje em dia com a pandemia, que as pessoas resolvem seus problemas online, ele inclusive só faz compras online, enfim, ele falou bastante, uma simpatia. Eu escutei tudo o que ele tinha pra falar e disse que quando o meu tênis “acabasse” eu iria comprar outro lá. 

Agora eu te pergunto. Quantas foram as vezes em que você ouviu uma história atentamente e genuinamente sem estar se preparando para falar algo? Somente ouvindo com interesse? 

Ao fazermos isso temos a oportunidade de escutar histórias reais de pessoas interessantes e que nem sempre fazem parte do nosso círculo social. Experimente!

Fabiano Issas disse: "A escuta é gratuita, generosa, altruísta e muitas vezes penosa. É o silenciar do seu mundo quando o mundo do outro fala. Quem nunca se cala desconhece o som da humanidade.” 

Hoje em dia nos cumprimentamos pelo nome e posso dizer que tenho um amigo aliado que traz uma certa segurança de andar por ali. Sempre atento, solícito e com um sorriso no rosto.

Texto: Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Ciclos

A vida é cheia de ciclos e eles estão presentes de diversas formas. E não adianta querermos antecipar ou estender demais porque no fundo sabemos quando eles acabam e outro se inicia. Isso acontece no âmbito pessoal, no trabalho, relacionamentos e na vida das pessoas e crianças com as famosas FASES.


Minha filha se preocupa demais com os outros, com o que eles falam e fazem. Ela não entende, ou pelo menos, não entendia, que algumas coisas simplesmente tinham que ser deixadas para lá. Falamos sempre que ela não tem controle sobre os outros, só sobre ela e a ajudamos a lidar com seus sentimentos e como eles a afetam. 


Parece que esse final de semana deu um “estalo”. Ela conseguiu resolver um conflito com um simples “deixa pra lá”. Fiquei encantada com a forma como ela lidou, falou e resolveu seus problemas, sem nervosismo, raiva e indignação. Ela ficou toda orgulhosa de si. 


É minha gente! Uma hora vai. Parecia que estávamos falando com as paredes, mas os filhos amadurecem e vão seguindo e passando as etapas da vida, ganhando confiança e repertório. 


Minha Primavera - Clarice 


“Compreender e respeitar a importância de cada uma das etapas consiste em aceitar que ciclos são necessários para que sempre possamos construir algo novamente.” (Horácio Coutinho)


Tenho certeza de que temos ainda muitos ciclos e fases da vida a serem passados e muitos novos caminhos a serem percorridos. Aceitamos que eles fazem parte da nossa jornada como pais.


Temos certeza de que sempre terá algo novo chegando. A gente corrige o que precisa ser ajustado e curtimos cada momento, que de preferência será cada dia melhor.


Texto: Maria Fernanda Garcia


terça-feira, 21 de setembro de 2021

Expectativas

 “O maior impedimento para viver é a expectativa. Na expectativa do amanhã, perde-se o hoje.” Sêneca

Você também é daquelas pessoas que se preocupam demais? Se preocupa com o que fez. Com o que deixou de fazer. Com o ontem. Com o amanhã.


Antes de dormir, eu e Clarice batemos o maior papo. Conversamos sobre como foi o nosso dia, coisas legais que aconteceram, coisas não tão legais assim, falamos bobagens, palhaçadas e damos muitas risadas. É uma delícia. Durante esse teretetê todo, me peguei falando de coisas que iriam acontecer dali alguns dias e ela parou e disse: 


- Mas mãe, não é você que vive falando que não tem que se preocupar com o dia de amanhã? Você está falando...


Falei que ela tinha razão. Disse que as vezes eu ficava assim meio - ansiosa, mas que ela tinha me ajudado a prestar a atenção. E completei a frase com:  


- Mas como é difícil esse tal de “Viver O hoje”,  não é mesmo? 


Ela, muito sábia, disse: 


- Vamos curtir aqui, nós duas! Tá na hora do AMP (Amor de mãe presencial) - momento que criamos para agarrar e beijar sem limites, até faltar o ar, até formigar a boca, até sair caldinho… 

Eu e Clarice no maior Teretetê


Depois do AMP ela dormiu e fiquei impressionada como eu, muitas vezes durante o meu dia, não estou no presente. Ora estou no passado, relembrando falas e coisas que aconteceram e como eu podia ter feito diferente e ora estou no futuro, criando diálogos e cenas que não vão acontecer. Porque eles não acontecem, a gente sabe. 


Isso é coisa dela, a minha amiga ansiedade. Que está sempre aqui. Sabe o que ela parece? Aquele diabinho que fica no ombro da gente tagarelando o que não deve. Ela não para de falar nunca. 


Francamente Dona Ansiedade.


Não é sempre que consigo me colocar no presente, porque nem sempre percebo que estou caraminholando, mas quando esse estalo acontece, extravaso  através de exercícios físicos. São eles que me conectam comigo e não me deixam espanar. É o famoso mindfulness, ou seja, qualquer atividade que traz você para o agora…yoga, pintura, cozinhar, meditar, ler, dançar… qualquer coisa que te preencha, para não dar brechas nem para o  passado e nem para o futuro.


Quem sabe um dia eu experimente meditar! Dizem que é ótimo.


Texto: Maria Fernanda Garcia

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Elefante Branco! Quem nunca?

 Você já fez aquela compra que na hora você tinha certeza que era indispensável na sua vida, mas que no dia seguinte você já percebeu que aquilo na verdade era um grande elefante branco?

Se sim, estamos juntos então!


No início da pandemia, onde tudo estava fechado. Academias, Parques, Lojas... senti a necessidade de pedalar. Mas oras, onde poderia fazer isso? Na garagem do prédio? Nas ciclovias da cidade? Não… Eu precisava fazer isso sem me expor ao vírus. Teria que ser no conforto do meu lar.


Então tive a brilhante ideia de comprar uma bicicleta ergométrica. Mesmo com T-O-D-A-S-A-S-P-E-S-S-O-A-S-Q-U-E-C-O-N-H-E-Ç-O me falando para não comprar, pra esperar mais um pouco. Eu simplesmente não quis ouvi-las. Então elas diziam, “faça exercícios funcionais em casa” E eu dizia “já estou fazendo, mas preciso fazer exercícios aeróbicos”. Então disseram “Porque que você não pula corda ao invés de pedalar?” E eu “Afe, pular corda não dá né!” - E ainda revirava os olhos. 


Eu estava decidida. Pensava, “Sou fitness “. É claro que vou usar. 


Então fui lá e comprei.


Clarice e a Bike


Na minha cabeça fazia total sentido. Eu e a Bike no meio da sala assistindo séries e pedalando. Ou então, eu e Bike fazendo aula de spinning online e eu suando, linda, de top e toalhinha pendurada no guidão. Eu e a Bike juntas a qualquer momento do dia e até duas vezes ao dia.


Quanta ilusão. Eu estou rindo, mas é de nervoso mesmo. Porque se usei Bike por dois meses, foi muito. 


No início, pedalei sim. Todos os dias. Por 40 minutos. Colocava Bike em frente a janela e pedalava olhando pra fora. Colocava Bike bem no meio da sala de pedalava assistindo a série. Meu marido pedalava. Minha filha também pedalava.


Até o dia que a academia do prédio reabriu e passei a frequentá-la novamente. A Bike foi abandonada. Ali no canto da sala. Hoje, ela é abrigo dos casacos pesados que usamos quando saímos e também das bolsas e mochilas. Ela virou um grande mancebo. 


Quero dizer tchau a Bike


Alguém quer ser seu novo dono? Semi nova! Esbelta! Vocês podem formar um belo par. Quem sabe?!


Maria Fernanda Garcia


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Propósito de vida

 Estava conversando com uma amiga que está passando por uma situação delicada. Perdeu o prazer em fazer o que faz. Está trabalhando sem se sentir inteira. Está trabalhando sem propósito.

Você já passou por isso?


Fico imaginando como deve ser difícil trabalhar em algo que não faz mais o menor sentido. Acordar cedo já sabendo que o dia será longo e cheio de coisas que não te animam mais. Reuniões intermináveis de assuntos que parecem não ter nem pé e nem cabeça. Haja lente para mudar e seguir  em frente, porque quando o ranço se instala, fica difícil. Muito difícil.


Ah! o auto conhecimento! Tinha que ser ensinado na escola, não é mesmo? Se auto observar é um exercício diário, para não cair no automático e ser atropelado pela vida.


Felizmente, hoje em dia, muito se fala sobre propósito de vida. A minha geração  está mais ligada - ainda que com o pé atrás - em  não só trabalhar por dinheiro, e sim por prazer também.


Hábito de leitura: Clarice lendo para Amora...


No dicionário, a definição da palavra propósito é intenção (de fazer algo), aquilo que se busca alcançar, objetivo, finalidade, intuito. Em outras palavras, é aquilo que faz a gente se levantar todo dia de manhã. É juntar o que se ama, com o que fazemos bem, com o que o mundo precisa e ainda ser pago por isso. Parece fácil? Mas não é nada fácil descobrir o nosso objetivo.

 

Especialistas dizem para começar sua busca pelo propósito com algo simples e, a partir daí, com o passar do tempo e do processo de se conhecer e se observar, aos poucos se avança. Passo por passo. Sem desistir. 


O meu maior desafio, como mãe, é orientar a minha filha a se conhecer e se observar. Que ela não deixe sua essência para trás em busca de algo que não lhe faça sentido e mostrar que pode sim se sentir inteira e encontrar seu caminho sem abrir mão da sua felicidade.


Porque já dizia Sêneca: “Se uma pessoa não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável.”


Texto: Maria Fernanda Garcia

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Cresceu! Será?

 Dia desses fui surpreendida com uma frase da Clarice. 

- Mãe, eu quero aprender a ir pra escola sozinha…

Dei aquela arregalada de olho, respirei fundo, engoli  seco. O coração acelerou. Deu até uma palpitação.


Pensei em dizer, “você está louca, você só tem 7 anos. Que loucura.” Ou então, “tá bom, quando você fizer dezoito anos você vai”. Mas com toda calma do mundo respondi:


- Então vamos começar a aprender, até o dia que puder fazer sozinha! 

- Oba!

- O caminho você já sabe?

Ela toda confiante respondeu

- Sei. É só ir até ali, atravessar a rua, esperar abrir o farol, atravessar a avenida, descer a ruela e chegou.

- Isso. Mas agora vamos aos detalhes... 


Pai e Filha andando por ai...Acervo pessoal


Enquanto caminhávamos, fui explicando pra ela tim tim por tim tim de como as coisas funcionam. Fui mostrando tudo que ela precisava prestar atenção. As pessoas que passam ao lado dela. As que estão vindo atrás dela. Aquela que está láaa loonge, mas que precisa estar atenta também. Falei de como atravessar as ruas. De estar atenta aos carros que passam. Aos que param. Aos que aceleram.


Depois de tudo explicado e compreendido - assim espero - disse que ela poderia começar a treinar sem darmos as mãos, lado a lado. Ela prontamente concordou - O que me parte o coração, já que era a parte mais deliciosa do meu dia. 


Ela logo se soltou e ficou ao meu lado.


Clarice está acostumada a andar nas ruas. Temos o hábito de caminhar pela cidade. Desde pequena ela foi ensinada sobre o que fazer e como fazer. Ela é bem esperta. Faz tudo direitinho.


Ao mesmo tempo que ela entende os pormenores do passeio, percebo que o olhar dela ao caminhar não é esse olhar “adulto”. Ela olha o formato dos troncos das árvores. A quantidade de folhas secas no chão. O vento que sopra quando passa um ônibus a toda velocidade. A distância entre um risco e outro da faixa de pedestres. Os desenhos nos muros. O barulho da ambulância. As buzinas dos carros no horário do rush. As cores das calçadas. 


Espero muito que ela não perca esse olhar, mas também espero que ela esteja atenta aos percalços do seu caminho. Da vida.


É claro que ela não vai sozinha para escola. Eu a acompanharei. Sempre. Andando ao seu lado. E quem sabe, às vezes, consigo pegar um pouquinho a sua mão…


Texto: Maria Fernanda Garcia